VISITEM TAMBEM MEU FACEBOOK
http://www.facebook.com/profile.php?id=100003348618097&ref=tn_tnmn#!/profile.php?id=100003348618097
Celso Cardoso
Homem Justo e Amigo. Exemplo de Superação e Vida!!!
sexta-feira, 4 de maio de 2012
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
"Dois milagres: a visão e a vida"

Queridos leitores, temos muitíssimas saudades daqueles entes queridos ou amigos que partiram dessa vida, deixando-nos cheio de vontade de chorar não muito pelas lágrimas escorridas na nossa face, mas lágrimas transbordantes na delicadeza do coração. Como exprimir essas dores da ausência das pessoas amadas? Como suportar a falta delas no cotidiano? Será que as encontraremos outra vez? Ou será que permaneceremos eternamente sem a visão daqueles que amamos?
Nesse ritmo de vazios, preenchidos fragmentalmente por pequenas alegrias diárias – o ser humano não pode estar preso somente à morte de alguém – precisamos respirar outros momentos de afazeres, até mesmo de diversão para diversificar a nossa humanidade tão carente de amor, de compaixão, de sensibilidade nas relações interpessoais. Pois, visivelmente, não somos múltiplos na nossa existência terrena? E, nessa multiplicidade dos “eus” atuantes na sociedade, o equilíbrio racional, diante do fim físico, é amadurecido.
Por outro lado, as boas lembranças de vez em quando surgem ora apenas como períodos de risos, ora com uma dor finíssima – aquela que “toca” a sensibilidade da alma, o que significa que houve alguém em determinado tempo e espaço que existiu, tornando-se especial para a construção da nossa personalidade quer seja pela sua atenção, o seu aconchego, ou pelas suas broncas para o nosso próprio bem.
Boas recordações são necessárias contra o tempo presente tão brutal. Ora, esse mesmo presente brutal, às vezes, precisa ser enfrentado para não se perder em apenas devaneios, porque lutar é preciso, desafiante, estimulante para novas conquistas contra o insucesso que nos rodeia.
As saudades estão aí nos cercando constantemente. Contudo, os nossos esforços se transformam pela necessidade de continuar a pensar o futuro e não ficarmos presos ao que já passou – embora seja de grande valor. Sendo assim, a verdadeira saudade é aquela que nós revivemos o passado com saudosismo sem ficarmos desorientados com o tempo atual e perdidos com o futuro que nos espera. Afinal de contas, viver intensamente é o objetivo de todos nós.
Voltando ao assunto, no período da morte de minha mãe, fui obrigado a trabalhar. Eu tive que trabalhar para ajudar os meus irmãos e o meu pai, até porque doença é uma coisa que, mesmo com todo dinheiro que a pessoa te, isso não resolve. Então, eu tinha necessidade de trabalhar para ajudar ao meu pai a saldar as suas dívidas. O trabalho é um dos melhores aprendizados nesse mundo, para se fortalecer a fim de encarar os obstáculos que tiver em frente; porém, o mais importante é nunca esquecermos que Deus está sempre na frente de tudo, pois sem ele não somos nada e com ele somos “tudo”.
Quem me segurou foi Deus
Quem cuidou de mim foi Deus com seu amor de Pai
Quem me amparou foi Deus
Eu quis ser fiel e o pecado como um fel
Amargurou meu coração
Daí eu quis fugir, da vida desistir, Deus não deixou.
Quem me segurou foi Deus com seu amor de Pai
Quem me segurou foi Deus
Quem me compreendeu foi
Deus quando eu chorei demais
Quando se perde alguém parece
que se perde a paz
Ele também chorou quando Lázaro morreu
E se compadeceu, chora comigo a minha dor
Mas ressuscita a alegria e o amor
Aos 13 para os 14 anos, estudava no antigo colégio São José, ao lado do clube Fluminense, Macaé. Descobri, infelizmente, que adquirira a doença da diabete. Só que esta tem três tipos: tipo 1ou infantil; tipo B – para quem não sabe, a diabete que o cantor Milton Nascimento tem – geralmente é causado por obesidade ou por idade avançada. Ainda tem uma terceira.
Vou explicar um pouco da diabete, tipo 1, que eu possuía. Com o tempo, ela é devastadora: se eu ficasse feliz ou triste, gripado, machucado aumentaria a glicose – fazia taxas elevadas de 500 e 600, por falta de conhecimento. Entretanto, não é o fim do mundo, leitores queridos, pois se ela for bem tratada, pode ser controlada.Naquela época, que eu a adquiri, eu não tinha conhecimento, não entendia e nem aceitava essa situação. Numa família que precisava trabalhar eu não tinha nenhuma informação para me dar algum suporte. Vocês que me leem, nunca se deixam abater, porque, como já falei acima, a doença é controlada e, se vocês amam a vida e se amam, poderão levar uma vida normal.
Imagine, amigo leitor, uma criança de 13 anos, além de estudar e trabalhar, ter que conviver tão precocemente com a diabete! Você pode até ter vergonha para tomar a insulina e as pessoas ficarem te olhando. Não pense nem fique triste, porque você é importante mais do que tudo nessa vida. Não ligue para as pessoas que estão te olhando, porque, na verdade, não são melhores e piores do que você: são todos iguais diante de Deus. E ter ou não ter doença no corpo não importa, pois o que realmente é importante são as intenções sinceras de seu coração e o seu respeito aos semelhantes
Aos 16 anos, eu e meu irmão abrimos uma nova empresa - a padaria “Flor da Barra” tinha como dono o meu pai –, onde trabalho a 30 anos, que é o Supermercado Irmãos Cardoso. Estou muito feliz por abrir essa e outras empresas. Não por dinheiro, até porque o valor é muito pouco, mas pela satisfação de poder dar emprego para as pessoas de adquirirem seus trabalhos, custearem as despesas familiares. Como trabalhamos juntos com eles, prezamos o respeito de ambas as partes – tanto como parte nossa de empregadores, como por parte dos empregados: quando estes estão tristes, preocupados com alguma coisa, vêm a mim para desabafar e querem uma palavra de conforto. Também não sou muito diferente: muitas das vezes recorro aos meus funcionários para me ajudar. Fico feliz pelas oportunidades que dei para as pessoas terem seu “ganha-pão” honestamente. Quanto a mim, eu penso que quanto mais se adquire empresas, mais problemas eu tenho, sem hora para almoçar, acordar, sem programação para curtir algumas férias. Sem dúvida nenhuma eu, muitas das vezes, fico “escravo” das minhas obrigações e, sinceramente, não sei se valeria a pena hoje abrir mãos de muita coisa para ser bem sucedido, por tão pouco.
Experimentei a minha primeira internação aos 18 anos –durante 30 dias –, fazendo taxas altíssimas de glicose, devido a um acidente na perna. De início, trabalhei várias vezes, com pernas inchadas: eu colocava uma bacia embaixo do caixa registradora, e mergulhava os pés no álcool com água, ficando de molho para desinchar. Mas sempre tive motivo de trabalhar. Na minha família, sempre fui educado para o trabalho para conseguir suprir as suas necessidades e pagar seus compromissos, mesmo com febre e doente. Mas agradeço muito ao meu pai por essa guerra.
O meu pai foi e é um grande guerreiro. Ele veio de Portugal com 40 ou 42 anos de idade, sem saber ler nem escrever. Chegando ao Brasil, em 1969, passou por aqui por muita dificuldade, porque não se adaptava com a comida brasileira. E aí ele começou a trabalhar, na época, na padaria de um irmão dele – um homem também muito sábio – que acreditou no potencial do meu progenitor, dando a este, muitas horas de trabalho e pouco descanso. Cabe aqui contar uma passagem ocorrida nesse período: meu pai saía de uma fábrica de motores para Caxias, a fim de arrancar uns dentes que não estavam bons. Acabou arrancando só um. Este meu tio perguntou: “Poxa, você perdeu o tempo de ir a Caxias para arrancar um dente?”. Meu pai ficou reflexivo. Em outra oportunidade, ao voltar novamente em Caxias, ele arrancou sete dentes de uma só vez. Meu tio questionou: “Você é maluco?”. E, nesse dia, meu pai tinha que trabalhar de dia e de noite, depois de arrancar sete dentes, pois um funcionário da empresa tinha faltado. Isso é uma prova o quanto o meu pai lutou para não decepcionar a família.
Em 1970, meu pai pediu que minha mãe e seus filhos viessem ao Brasil. Alugaram uma casa em Saracuruna, Rio de Janeiro, com um quintal enorme. Minha querida mãe, para ajudar nos orçamentos familiares, começou a plantar algumas verduras e hortaliças para o próprio sustento. Ela pegava um de farinha, de pano, lavava, passava e fazia lençóis e blusas para a família. E todos tinham uma roupa melhor para ir à igreja no domingo.
Minha irmã que, na época, tinha idade maior, começou a trabalhar em uma das padarias do meu tio e o meu irmão em outra desse mesmo tio. Assim começou a nossa vida: todo dinheiro que meu pai, meu irmão e minha irmã ganhavam, guardavam. Depois de alguns anos, o meu pai comprou uma das partes das padarias dos meus tios, tornando-se três sócios. Depois de estarmos com a vida mais estabilizada, a minha mãe adquiriu uma doença e aí tivemos que lutar juntos.
Minha mãe pediu ao meu pai para ira Macaé para ficar com seu único parente, Sr. Monteiro, dono de uma padaria. Foi quando viemos a Macaé e, depois de um ano e meio, ele veio a falecer, tendo o meu pai que recomeçar do zero de novo. Após três anos, meu pai casou-se de novo. Obviamente, os filhos ficaram irritados, pois pensávamos que essa nossa madrasta ocuparia o espaço de nossa mãe. Assim, ele adquiriu com a nova esposa mais dois filhos, fazendo de ambos iguais a todos nós outros. Portanto, esse homem, que é o meu pai, não foi e não é um grande sábio, apesar de não saber ler e nem escrever?
Aos 23 anos de idade, voltei novamente ao hospital, com taxas altíssimas. Foram 20 dias internados (seis na C.T.I e quatorze num quarto particular). Mas mesmo assim, continuei firme nos meus ideais. Aos 26 anos, casei-me com uma jovem inteligente, compreensiva, amiga e companheira. Chegando seis meses de casados, retornei novamente ao hospital. Ao sair, continuei a trabalhar. Depois disso veio o pior: comecei a ver muito pouco, a ver vultos a perder a visão por completo, ficando cego por três anos. Além disso, a pressão chegava 30 por 20. O médico não acreditou! Dr. Michael, um grande amigo, mediu a minha pressão com outros aparelhos para conferir se estava realmente certo no que diagnosticara. O pior é que eu não sentia nada e, a qualquer momento, eu poderia vir a dar vários problemas e vim a falecer.
O Dr. nunca me abandonou, sempre tratando e “segurando” as minhas taxas altíssimas de pressão, durante 3 anos. Outro problema me acarretou: eu tinha que fazer hemodiálise, fiz a fístula. Como foi dito atrás, nunca larguei a mão de Deus. Lembro agora de uma música interpretado pelo cantor católico, diácono Nelsinho Corrêa, que, hoje me conforta muito:
Quem me segurou foi Deus com seu amor de PaiQuem me segurou foi Deus
Quem cuidou de mim foi Deus com seu amor de Pai
Quem me amparou foi Deus
Eu quis ser fiel e o pecado como um fel
Amargurou meu coração
Daí eu quis fugir, da vida desistir, Deus não deixou.
Quem me segurou foi Deus com seu amor de Pai
Quem me segurou foi Deus
Quem me compreendeu foi
Deus quando eu chorei demais
Quando se perde alguém parece
que se perde a paz
Ele também chorou quando Lázaro morreu
E se compadeceu, chora comigo a minha dor
Mas ressuscita a alegria e o amor
Minha esposa, naquela época, dormia de dia para ficar acordada à noite. Esse fato se dava porque eu dava hipocrissimia, ou melhor, a taxa de açúcar caía demais, dando algumas vertigens como suar frio, não controlar o que você faz. Se não resolver rápido – colocando uma bala ou doce na boca – eu poderia entrar em coma, sendo irreversível. Já que na parte da noite o açúcar mais caía, minha esposa ficava acordada para ver se eu começava a suar frio: era o primeiro aviso que o açúcar estava “descendo”, o rim que estava se perdendo.
Nesse tempo, eu, com 1,79 cm (um metro e setenta e nove de altura), com 47 (quarenta e sete quilos), tinha que ouvir vários boatos sobre o meu estado físico: que eu estava com AIDS, Câncer etc. e, mesmo assim, nada me abateu, pois Deus estava comigo. Aqui, posso citar o Salmo 72, para esboçar a minha confiança em Deus: “Mas estarei sempre convosco, porque Vós me tomastes pela mão. Vossos desígnios me conduzirão e, por fim, na glória me acolhereis. Afora Vós, o que há para mim no céu? Se vos possuo, nada mais me atrai na terra. Meu coração e minha carne podem já desfalecer; a rocha de meu coração e minha herança eterna é Deus [...]. Para mim, a felicidade é me aproximar de Deus, é pôr minha confiança no Senhor Deus” (Sl 72, 25-26. 28).
Depois de vários momentos difíceis, o Bom Deus começou abrir caminhos. Fui indicado a ir a São Paulo para procurar um médico para ver se eu podia fazer um transplante de rins. Eu e minha esposa fomos sem conhecer nada. Marcamos um médico; ele me examinou, encaminhando-me para um laboratório afim de eu deixar o meu sangue com intuito de eu conseguir doadores compatíveis – minha família, minhas irmãs fizeram o exame. Ao chegar ao laboratório, a primeira vitória vem ao meu encontro. Minha esposa perguntou a enfermeira se lá fazia o transplante duplo e se ela conhecia alguém para esse transplante.
A enfermeira não quis dar as informações necessárias: falou que tinha outros transplantes duplos, exceto de Pâncreas e rins. Em outra sala, outra enfermeira, que foi colher o meu sangue, ouviu minha esposa, em prantos, dizer: “Poxa, imagina você tendo um marido jovem, cheio de vontade para viver e sabendo que ele tem uma esperança, porém a informação é negada. Será que você vai conseguir conviver com essa amargura, essa imparcialidade de ajudar o outro e não querer?” A enfermeira, no começo, não aceitou; mas acabou cedendo, dando as devidas informações, com o número do médico, o seu consultório etc.
Não posso deixar as minhas sinceras gratidões a essa enfermeira. Muito obrigado, enfermeira, porque você foi muito importante para mim. Que o Bom Deus possa dar muita paz, saúde para você e seus familiares. Através desse seu gesto informativo, muitas pessoas puderam recuperar as esperanças que perderam.
Continuando a minha história, a minha esposa imediatamente ligou para o número do médico indicado. Era uma Quinta – eu estava vindo para Macaé – e ele só podia me atender na Sexta. Eu me recusei a ficar mais um dia em São Paulo. Ora, pela primeira vez vi minha esposa brava. Ela desabafou: “chegando a Macaé a gente se separa; mas a esse médico você vai”. Ora, já estava cansado e sem esperança e nunca vi uma parte da medicina que tivesse algo para melhorar a vida, pois já estava cego. Perdi os rins e estava sem sensibilidade nas pernas – podia cortar que não doía nada. Mas diante da agressividade da voz da minha esposa e no olhar senti nela a esperança que eu tinha perdido e, dali em diante, senti-me na obrigação de ficar.
Já que eu e minha esposa não conhecíamos nada em São Paulo, fomos procurar um hotel. Nessa instância, houve um fato bem engraçado: embora estivesse escrito hotel, na verdade era um MOTEL. E, à noite, ouvíamos gemidos, gritos nos “apavorando”. Apesar desse incidente, conseguimos dormir um pouco. No caso desse motel, o meu cunhado Jairo e o meu concunhado Antônio estavam juntos conosco, tendo que dormir ambos em outro quarto. Agora, querido leitor, imagine dois homens indo para o mesmo quarto de Motel. O que as pessoas estavam pensando? Não foi um fato engraçado?
No dia seguinte, ficamos perambulando de um lado ao outro, pois a consulta estava marcada para as 17h. Chegando no horário marcado, eu e minha esposa ficamos por horas esperando o médico chegar. E eu, como sempre, ignorante, reclamei com a minha esposa por causa do horário. Porém, hoje, com a “cabeça” no lugar, vejo com clareza que não era ignorância da minha parte, mas o cansaço da doença, e com o medo de o médico chegar e me dizer que eu não tinha nenhuma chance de melhorar o quadro que me encontrava. Isso faz a gente gritar com a pessoa que quer o melhor para você. Então peço desculpas por todas as reclamações. Às 21h 30 min. o médico – ufa, finalmente! – chegou.
Vocês podem me perguntar por que faço isso. Como já falei antes, sou muito temente a Deus, e como Ele é muito sábio, quando os problemas chegam, a primeira coisa que faço, é me colocar no lugar dessas pessoas. É como um filme: é automático. Mesmo que eu não queira fazer, a minha história se repete nas pessoas que vêm me procurar. Aí, tenho que fazer, mesmo que às vezes, faltam-me recursos. Não tenho nem vergonha de dizer: às vezes não compro nem roupas para mim, pois quando saio para comprar, aparece alguma coisa para eu pagar. Nesse sentido, prefiro atender o meu semelhante e acabo esquecendo de mim mesmo.
Já que “a voz é a vista de quem não vê” [1], indaguei à minha esposa como era o médico. “Um jovem bonito, com mais ou menos um metro e noventa de altura, sério, aproximadamente com 28 anos de idade”. Fiquei pensativo: “vou entregar a minha vida a esse rapaz? Mas, se estou aqui, se Deus determinou para esse jovem cuidar da minha vida, a entregarei com toda fé em Deus nas mãos desse médico”.
Entrei no consultório. Ele olhou os meus exames anteriores – eu tinha que passar por vinte especialistas médicos, cada um com sua especialidade. Fiquei desesperado: “Doutor, moro no interior do Estado do Rio de janeiro. Fica difícil essa deslocação!” O médico, então, simpatizou-se comigo, disse que fora com a “minha cara”, e viria o que poderia fazer.
Começou a fazer vários telefonemas para os seus companheiros de profissão. Em resumo, ao sair de seu consultório – por volta das 00h 40min – eu estava em mãos com diversos pedidos de exames. Ora, não devemos parar de lutar! Vim determinado para levar adiante o que o médico me indicara. Mais uma vez minha esposa marcou todos os exames em sequência. (Para aproveitar o remédio laxante que eu tomava e, no lugar de fazer um exame por dia, ela aproveitava para eu fazer os outros também, a fim de não tomar laxantes dias seguidos, pois eu já estava muito debilitado, sem forças cada vez que eu fazia exames. Entretanto, consegui fazê-los todos, mandando-os por sedex e sento até elogiado pelo médico por tamanha rapidez e até se prontificou a fazer o transplante duplo em mim).
O doutor convocou uma reunião com vários especialistas. Depois disso, recebi a resposta que eu me encontrava apto a fazer o transplante. Fui para São Paulo acertar tudo. Inocentemente perguntei: “Doutor, depois do transplante, posso voltar para a minha cidade?” Ele me respondeu: “Se correr tudo bem, se conseguir um doador, operar e conseguir que seu cérebro aceite ‘coisas’ novas em seu organismo, você ficará aqui em São Paulo durante seis meses”.
Como ficar seis meses num local, sem fazer nada? Eu não conseguiria, pois só sabia trabalhar, trabalhar. Nada ali foi fácil, mas Deus sempre me permaneceu orientando.
Em primeiro de Março de 1997, cheguei a São Paulo. No centro, às 21h, o apart. Hotel, que minha esposa tinha marcado para ficarmos, estava em construção. Que desespero! Ficamos apavorados! Todavia, senti em minha alma para não ficar nervoso. Imaginem, diletíssimos leitores, duas pessoas – inclusive eu, cego - nove horas da noite, na Avenida paulista sem saber para onde ir? É claro, ficamos desesperados. Mas o Bom Deus mais uma vez acalmou o meu coração e me deu as devidas direções para eu tomar. Dei um sinal para um taxista: “moço, nós esquecemos o nome do hotel aqui por perto que estávamos. O senhor poderia me dar informação onde ele fica aqui?”. O motorista nos deu a informação, e lá fomos ao hotel. Alugamos por uma noite com direito de renovar.
No dia seguinte, comecei a fazer os exames, e minha esposa procurava um imóvel para alugar. Que dificuldade! Ninguém queria alugar por seis meses. Nessa procura, conseguimos alugar um imóvel por trinta dias. Porém, o mesmo era caro e sem conforto. Só que por outro lado, ficava perto dos recursos hospitalares.
Eu e minha esposa ficávamos nos shoppings, pois tínhamos medo de ficar na rua. E, nos shoppings, ficávamos procurando, procurando um imóvel para ficarmos seis meses. Como na época eu faria o transplante duplo, e apesar do Ministério da Saúde não “entender” como cura, tive de arcar com as despesas e desfazer de muitos bens que eu possuía.
No dia 12 de Março daquele mesmo ano, apareceu o primeiro doador: um jovem sofreu um acidente de moto, vindo a falecer. Fui convocado para me internar e me preparar para a operação. Aqui vale ressaltar que é permitida a doação quando é detectada a morte cerebral, porque é necessário ter um tempo apto para fazer todos os exames na vítima (doador), para ver se o acidentado está apto ou não para doar os órgãos. (O médico tem no máximo 16 horas para fazer, em alguns órgãos, para fazer os exames necessários nestes – no meu caso, Pâncreas e rins). Em contrapartida, o doador tinha uma doença – nem ele em vida sabia – que o impedia de doar. Saí do hospital muito frustrado, sem esperanças e muito triste. Minha companheira incentivou-me a não desistir, e que eu jamais poderia perder a esperança. Então, esta voltou novamente em meu coração.
No dia 24 de Março continuamos a procurar um imóvel. Ao chegar, fizemos uma entrevista com o proprietário deste que, por coincidência, era um médico. Ele só fazia contrato por 30 meses. Era um apartamento na Lapa, com dois quartos, sala, cozinha. Contei a minha situação a ele e o mesmo se sensibilizou com meu sofrimento, aceitando a locação por seis meses.
Dois dias depois, tive a notícia de outro doador, só que precisava pagar pelo transporte, pois o doador morava em Bauru. Liguei para o meu pai, pedi um empréstimo para ele, sendo atendido na mesma hora, deu-me permissão para alugar um helicóptero, não me cobrando nada do dinheiro que me emprestara. O médico que me tratava fez questão de retirar os órgãos da vítima. Para ele, foi uma maratona de mais ou menos 72 horas sem dormir.
No dia 27, às 10h, dei entrada na sala de operação e, um dia depois, às 2h da madrugada, saí. Acordei, às 6h 30min, na U.T.I com aparelhos. Assustei-me. A enfermeira me tranqüilizou. Foram dias duros: eu tomava drogas de cabeça para baixo – era para “disfarçar” o meu cérebro para que este não pudesse “entender” que tinha algo de novo em mim. Se acontecesse isso, eu teria uma rejeição. Os efeitos colaterais davam muita febre: eu ficava com um cobertor térmico, mas mesmo assim eu continuava a dar calafrios. E sede? Não podia tomar água.
E como eu estava vulnerável a qualquer doença, existia o isolamento; que o médico para me ver tinha que passar por um lugar de descontaminação. E a enfermeira, ficava ali no período de 4h, e, enquanto entrava uma, não podia mais sair. Eram os cuidados para eu não ter contaminação. Além disso, aconteceu um episódio: a enfermeira, ao me segurar, soltou o meu rosto, batendo na cama. Minha esposa, vendo aquele acontecimento pelo vidro, ficou irritada, pedindo para o médico para tirá-la do hospital. O médico, muito profissional e muito amigo, depois de 72 horas de maratona, ainda teve forças para ir ao hospital para me ver e aproveitou a ocasião para tirar aquela enfermeira.
Mais um detalhe: cinco horas depois da operação, eu tinha que fazer alguns movimentos fisioterapêuticos para eu ter resistência respiratória; e como – todo mundo sabe – a pessoa acamada tem muito risco de contrair uma pneumonia ou qualquer outro tipo de doença. Ora, lá em São Paulo, os médicos tinham cuidados com o paciente para que este possa fazer os exercícios terapêuticos, mesmo que o paciente venha a sofrer dores quase insuportáveis, mas é para o nosso próprio bem.
Chegando ao quarto, pude finalmente tomar água e comer uma comida pastosa; e, para a minha alegria, nunca mais tomei insulina. Aos poucos, o Pâncreas e os rins foram se adequando às informações que o cérebro mandava, pois os novos órgãos ainda não estavam adaptados ao meu organismo, e eu fazia muitas taxas de hipocrissimia, além de eu urinar muito, sem controle. Passados os dias, o meu cérebro foi determinando a normalidade do meu organismo. Era para eu ficar 30 dias internado, só que fiquei somente 15. Finalmente, depois da tempestade veio a bonança.
Na minha alta, a Folha de São Paulo queria fazer entrevistas comigo, sobre as minhas experiências do transplante duplo. Aceitei de bom grado, porque, certamente, ajudaria muitas outras pessoas que passaram ou passam por situações análogas às minhas. Um dia depois, o redator me ligou dizendo que não iria publicar, pois os leitores me chamariam de mentiroso, porque eu não tinha mesmo a aparência de doente. Ele até me exaltou: “Você parece melhor que eu, se eu não acredito, imagine quem vai ler o jornal?”.
Passados três dias depois, a TV Globo queria fazer um documentário comigo. A emissora queria que me eu internasse novamente para fazer a simulação do processo que eu falara. Não aceitei a proposta. Não queria experimentar tudo de novo. Aliás, o que podemos “pegar” de sofrimentos antigos é apenas maturidades para enfrentarmos novos obstáculos, e não simulações. Em consequência, a TV Record e TVS (hoje SBT) entraram em contato comigo para fazer a reportagem. Na despedida, as emissoras me perguntaram como eu era antes. Respondi-me: “Eu não me lembro. Morri no dia 27 e renasci no dia 28. Só posso contar de hoje para frente”.
Cinco ou seis dias depois da entrevista eu tive uma decepção: acabando de tomar banho, o telefone tocou: era o médico, perguntando-me como eu estava. Respondi que me encontrava bem. Porém com uma temperatura muita elevada no corpo, pois parecia que estava com muita febre. Foi quando ele me falou: “Venha agora para o hospital!”. Indaguei: “Doutor, como posso descer do 54º andar para o térreo, se não consigo enxergar os números do elevador?” Ele retrucou: “Venha com sua esposa!” Respondi novamente: “Doutor a minha esposa saiu para a secretária de Saúde, no centro, para pegar os remédios da rejeição”. Foi quando ele me falou: “Pegue o interfone, ligue para o seu zelador, a fim de te buscar e descer, chamar um táxi e te encaminhar para o hospital”.
Quando estava me arrumando a campainha tocou. Fui atender todo feliz, achando que era minha esposa. Deparei com o vulto de duas pessoas, dizendo-me que eram enfermeiros a mando do Dr. Tércio.
Levaram-me de ambulância para o hospital São Camilo; quando lá cheguei de maca, os enfermeiros tiraram o meu sangue: existia uma desconfiança de rejeição. Passei, então, por maus momentos por mais doze dias de internação. Foram 12 dias de momentos difíceis, muitas noites sem dormir; porque eu tive uma febre dia e noite. Foi quando, no 12º dia, o médico me deu a notícia: “amanhã você não terá mais febre”. Perguntei: “Doutor, além de você ser um excelente médico, um grande ser humano, também é um bom feiticeiro?”. Ele Começou a rir: “nada disso, meu amigo, porque meu sobrinho adquiriu um dia antes o mesmo quadro de virose que o seu. A dele foi embora hoje. Então, portanto, o seu irá embora amanhã. É simples! Está descartada a hipótese de rejeição”. Acreditei e Confiei muito na palavra do médico e, acreditem, queridos leitores: ele tinha razão!
Voltando para casa, continuei a minha rotina. Como todos os dias eu tinha que fazer exames bem cedo, tomava café, mais tarde. Comecei a ver “vultos” mais nítidos, definidos. Um belo dia, ao acordar, consegui ver o rosto da minha esposa. Mais um milagre de Deus em minha vida! Até hoje, depois desse fato marcante para mim, enxergo de uma vista, porém ando de moto, assino cheques, leio com dificuldades, tudo isso levando uma vida normal. Ainda sobre esse assunto, às vezes passam na rua algumas pessoas que me cumprimentam. Entretanto, por causa do pouco foco da visão, não consigo enxergá-las com nitidez. Entendam, digníssimos leitores, não foi porque eu era e nem sou metido. Perdoa-me por minha distração que, na verdade, é acidental como vocês bem sabem.
Voltei para Macaé. Mas o novo Celso, com tanta vitória conseguida em São Paulo, não tinha o direito de ser o mesmo. Fui fazer exames de revisão e, o doutor Michel, um grande amigo, que aqui continuou a me tratar, ouviu esse meu apelo: “Dr. Michel, passa para frente essa chance de as pessoas terem essa vida, com esperanças e projetos futuros”. Ele me fez uma observação: “Celso, para levar adiante essas informações, temos que ter cuidados com elas – porque podem dar esperanças para alguns e desilusão para outros; porque nem todo mundo tem essa coragem que você teve. Tanto assim, se você hoje começar do zero – tanto pela parte financeira como um tratamento – hoje eu apostaria em você, pois você não aceita fracassos nem derrotas, e sim é um lutador incansável. Não existe para você nenhum obstáculo: você tenta vencê-los todos; e se perder alguma luta, por outro lado ganha uma batalha”.
Com tanto favores, Deus começou a colocar em minha vida pessoas para eu ajudar. Em 1998, houve uma grande enchente em Macaé e a Brasília entre outros bairros ficaram debaixo d’água. Eu e meu irmão tínhamos um prédio de cinco andares com quatorze apartamentos prontos para alugar – metade sete deles meu. Pedi ao meu irmão a sua parte, ele então me cedeu 7 apartamentos. Coloquei as famílias desalojadas ali durante três ou quatro meses. Coloquei o meu carro na água, pedi fraldas e Hipoglós. Fiquei muito feliz por ser um instrumento de ajuda dessas pessoas tão sofridas, tão abatidas pela catástrofe da natureza.
Voltei a trabalhar. Outro grande feito foi a translação de pessoas diálise - 4 horas numa máquina tirando sangue: pegando o paciente em casa e levando-o à clínica, e garantindo a sua volta para o seu domicílio. Isso é feito de Segunda a Sábado; são três horários para dialisar: manhã, tarde e noite. São três turmas por dia; umas fazem às Segundas, Quartas e Sextas, e outras às Terças, Quintas e Sábados. Imaginem, amigos leitores, essa pessoas pegando o ônibus em péssimos estados, podendo desmaiar, e até os seus casos se complicarem ao ponto de, de repente virem a falecer.
Arrumei, em 2009, com o deputado Glauco Lopes, uma van. Assumi o diesel, o motorista e a manutenção. Confesso que não é barato!
Fui para fazer esse trabalho por 3 meses, mas infelizmente, ou felizmente, as pessoas buscam muito retorno financeiro e prestígio e esquecem do maior bem precioso, que é a nossa vida e a vida do semelhante; então não apareceu ninguém para assumir esse compromisso e nem para ajudar. Mas como sou muito temente a Deus, acho que Ele colocou em minha vida essa situação. Continuo fazendo esse trabalho até hoje – ano de 2012 -. Esse nosso trabalho me deixa muito feliz, muito feliz mesmo. Sei que muitas das vezes não é para nós nos sentirmos orgulhosos, pois esse trabalho não é a cura dessas pessoas, mas eu tento fazer o possível para dar a elas mais conforto, a fim de amenizar as suas dores.
Agora vamos mudar um pouco de assunto. Vamos falar de alegria, festa. Apesar disso, ainda consigo promover a Páscoa das crianças, dando para elas o seu ovo de Páscoa, não deixando que elas voltem para casa de “mãos vazias”. No dia 12 de Outubro fazemos “O dia feliz das crianças”, sendo o dia inteiro. Colocamos vários brinquedos para elas se divertirem: pula-pula, tobogã, piscina de bola, corridas de saco etc.; distribuímos também maçãs do amor, bolo, pipoca, refrigerante. Para vocês terem uma ideia, no último dia 12 de Outubro (2011), conseguimos atender mais ou menos 1.500 crianças, dando, no final da festa, um brinquedo para cada uma.
Não esquecendo que faço também o “Natal da família”, dando um frango e um panettone para cada mãe e brinquedos para as crianças. Porém, sem nunca esquecermos o essencial: o nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo.
Temos alguns subbairros de Macaé que faltam tudo – não quero citá-los – porém distribuo água potável gratuito, compro remédios, pago alguns exames médicos para aqueles que estão sofrendo algum tipo de doença e não têm como se tratarem. Mando várias pessoas para o Rio de Janeiro, Itaperuna, São Paulo e Minas Gerais, para tratarem de doenças como câncer, vista etc. Não sou rico, mas o Bom Deus não me deixa faltar nada. Deus sempre me abriu as portas, mesmo quando estas se encontravam fechadas. Não me perguntem como consigo fazer tudo isso.
Não sei até quando terei forças para continuar esses trabalhos sociais, todavia, digo de coração: meus queridos leitores, nunca desistam de seus ideais! Vocês são pessoas que eu jamais esquecerei – especialmente aquelas que tanto me ajudaram nos momentos que eu mais precisava. Por isso, tenho muito que agradecer a todos aqueles que me ajudaram nas minhas maiores dificuldades, principalmente quando o meu supermercado, situado na Brasília, pegou fogo no seu depósito às 3h da madrugada. Se não fossem os moradores em levantarem da cama – alguns até de cueca – que entraram comigo, queimando-se, uns entrando na cisterna, uns carregando água no balde para apagar o fogo levando água em balde, o meu prejuízo que eu levaria seria incalculável; mas perto daquilo que eu ia perder, não foi nada, graças aos bondosos moradores da minha localidade. Quando o corpo de bombeiros chegou, o fogo já estava sobre controle.
No momento da minha operação em São Paulo, os moradores da minha comunidade fizeram juntos uma oração para o meu sucesso, e foi a eles, que eu tenho certeza, que o Bom Deus ouviu. E Deus me deu uma nova oportunidade de eu ter a chance de uma segunda vida. Portanto, obrigado, meus amigos, com vocês, vencemos e venceremos juntos.
Quero agradecer também à minha família, que sempre esteve comigo; aos médicos que me trataram, aos meus companheiros de lutas por um mundo melhor. Aqui encerro, dizendo muito obrigado a Deus, pelo fato de estar vivo, pois ganhei uma vida, uma visão, ou seja, DOIS MILAGRES: A VISÃO E A VIDA.
Assinar:
Postagens (Atom)